Sempre se disse “há muitos peixes no mar”, mas nunca antes
esse mar esteve ao nosso alcance como no tinder, “faça a sua escolha, lance a
rede de pesca”. Podemos escolher um ser humano, da mesma forma que encomendamos
pizza. Achamos que a intimidade se encontra numa sequência perfeitamente
executada de emoji. Achamos que o esforço é um texto de "bom dia". Dizemos
o romance está morto, porque talvez esteja, mas se assim for, talvez só
precisemos de o reinventar. Talvez o romance agora seja esquecer o telefone
tempo suficiente para olhar nos olhos um do outro durante um jantar. Talvez o
romance seja desinstalar o tinder do telefone depois de um primeiro encontro
incrível com alguém.
Mas mesmo quando decidimos comprometer-nos, continuamos com
um olho nas demais opções. Queremos o belo corte de filet mignon, mas deitamos o
olho ao buffet medíocre, só porque ele está ali. Porque existe escolha. Achamos
que a oportunidade seguinte nos espera. Pensamos que quanto mais possibilidades
temos, melhor. Não ligamos ao facto de nos sentirmos realmente bem com alguém,
nem sequer entendemos o que sentimos porque mantemos um pé fora da porta, não vá
ela fechar-se para algo melhor, que seja exatamente o que nós queremos sentir. Olhamos para a próxima emoção, o
próximo choque de excitação, a próxima gratificação instantânea.
No dia seguinte exploramos um pouco mais o tinder e o
ciclo inicia-se novamente. Emoji. Texto "Bom dia". Intimidade. Envolvimento. A rasteira inevitável, a insatisfação subtil. "Falta alguma coisa, mas eu
não sei o que é." Venha o próximo match. Ao viver a vida em caracteres, escapa-nos que o que procuramos é uma
mentira. Queremos conexão, conexão verdadeira. Queremos um amor que se constrói.
Queremos voltar para casa para as pessoas que amamos. Queremos chegar ao final
das nossas vidas e perceber que amamos perdidamente com pés e cabeça e não com
o nosso smartphone.
True, sad but true.
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